Nilton Petrone, o Filé, já tratou Romário, Ronaldo e Gustavo Kuerten.
Eles diz que o profissional tem que se doar ao paciente.
Luísa Brito Do G1, em São Paulo
Nilton Petrone, o Filé, após ser contratado pelo Santos
Fisioterapeuta que já atendeu atletas de destaque como os jogadores de futebol Romário, Túlio e Ronaldo, o tenista Gustavo Kuerten e grandes clubes como o Flamengo, Fluminense e, atualmente, o Santos, Nilton Petrone, 46, o Filé, diz que para ser um bom fisioterapeuta, o profissional "tem que estar preparado para se deparar com a dor do outro” e se doar ao paciente. Ele também já atuou na seleção brasileira em 1990 e 1999.
Em entrevista ao G1, Filé disse que a profissão terá uma grande participação na área da saúde nos próximos 30 ou 40 anos. "Ninguém vai viver sem função, a sociedade está envelhecendo e as pessoas cada vez mais estão praticando esporte”, argumentou. Leia abaixo trechos da entrevista.
G1 - Por que o senhor quis fazer fisioterapia?
Filé- Isso é uma história longa. Resumindo eu entrei na fisioterapia, sem querer, por acaso. Em 1979 era uma coisa desconhecida, no Rio de Janeiro só tinham duas faculdades. Eu passei no vestibular de direito, mas uma amiga minha ficou insistindo para eu conhecer a faculdade de fisioterapia. Acabei acompanhando ela, fiz vestibular e passei. Não teve influência de ninguém na família, não tenho parente na área de saúde. Sou de uma família muito pobre, de jornaleiro.
G1- O senhor logo gostou do curso?
Filé - No primeiro ano me encantei demais e procurei logo fazer estágio. Trabalhava de madrugada entregando jornal, dormia quatro, cinco horas, e umas 9h ia para o estágio. À tarde e à noite fazia faculdade.
G1 - O que te fez decidir pela área de esportes?
Filé - Estagiei em todas as áreas, de atendimento primário ao mais complexo, todas as partes que você pode imaginar e só fui ver a parte desportiva na reta final do curso, quando eu já estava praticamente me formando. Aí sai da faculdade e comecei a atender pacientes particulares. Na mesma época, fui dar aula na Universidade Castelo Branco [no Rio de Janeiro] e me chamaram para ser diretor da clínica da universidade. Decidi montar um serviço para o atendimento específico do atleta porque na faculdade tinha um curso de educação física, os atletas sofriam lesões e tinham dificuldade de encontrar atendimento. Foi assim que comecei a desenvolver meu trabalho.
G1 - De onde surgiu o apelido Filé?
Filé - Foi o Romário que deu, por ser a melhor parte da carne do boi.
G1 - Do que o senhor mais gosta na sua profissão?
Filé - De vivenciar a dor do outro e poder aprender muito com essa questão do sofrimento, da incapacidade da função, de as pessoas não conseguirem realizar sua atividade primária. É uma dádiva que Deus deu para a gente poder ter contato e ajudar [as pessoas] nessa situação.
G1 - O que é a fisioterapia para o senhor?
Filé - É uma profissão maravilhosa. É a ciência que trata da incapacidade através dos movimentos, dos recursos naturais. É uma abrangência de contato humano com o paciente, é uma possibilidade de conhecimento do indivíduo muito grande. Considero fisioterapia a grande profissão da saúde nesses próximos 30, 40 anos porque ninguém vai viver sem função, a sociedade está envelhecendo e as pessoas cada vez mais estão praticando esporte.
G1 - O que é essencial para ser um bom profissional?
Filé - Precisa ser um indivíduo altamente preparado para se deparar com a dor do outro, muito ético, muito responsável, muito comprometido. Uma pessoa que saiba entender o sofrimento do outro. Eu, às vezes, atendo pessoas que já passaram por outros profissionais e percebo que é um problema muito simples e penso 'por que o outro profissional não percebeu?'. Acho que foi porque ele não se doou um pouquinho, não tem a noção de que é preciso se interar com o paciente.
G1 - Que dicas o senhor daria para quem esta começando na área?
Filé - A grande base do conhecimento da fisioterapia é a terapia manipulativa, conhecimento dos recursos manuais. O indivíduo tem que ter conhecimento da base científica, como anatomia e fisiologia e depois conhecimento de aplicabilidade daquilo. É muito importante [saber a terapia manipulativa] porque é um grande recurso para que o profissional possa, sem a ajuda de um equipamento, oferecer um tratamento de alta eficiência.
G1 - O senhor indicaria aos estudantes fazer estágio?
Filé - Sim, mas com cuidado para não ser usado como mão-de-obra barata. O estudante não pode substituir um profissional. Ele deve ser supervisionado por um profissional para aprender bem o que está fazendo.
G1 - Há alguma fórmula para o sucesso?
Filé - Só existe sucesso com o trabalho. Nada resiste ao trabalho. Se você trabalhar e se preparar para aquilo, é só dar um tempo para as coisas acontecerem. Não conheço ninguém que tenha atingido o sucesso sem trabalhar. Eu comecei a trabalhar com esportes e em 1990 aconteceu de o Romário me chamar. Aí foi para a mídia e daí em diante a carreira foi embora. Mas antes disso, eu já havia atendido vários jogadores de futebol. Atendi Carlos Alberto Santos, Gotardo, Gonçalves, vários jogadores que já foram da Seleção Brasileira.